segunda-feira, 30 de abril de 2012

1º de Maio


Dentro
Estes são meus olhos, minhas orelhas, minha boca;
Estas são minhas pernas, meus braços, minha cabeça;
Este é o meu peito, e dentro dele o meu coração;
Estes são meus pais e aqueles, os meus filhos;
Ali adiante estão meus irmãos e meus vizinhos;
Esta é a rua em que moro e a cidade em que vivo;
Esta é a minha casa, o meu gato e o meu cachorro.
Estes são os meus laços de sangue, amor e esperança;
Com o que sonho a maior parte do tempo.


Fora
Enquanto digito, transcrevo, escrevo, cumpro mandados,
Digitalizo, transporto e empacoto milhares de processos.
É o meu trabalho com quem vivo a maior parte da vida;
E é ele que me toma para sempre.
Me entorpece, me aprisiona e me reduz diante de meus laços.
É nele que me afundo gigantescas horas em dias, meses, anos;
Por uma vida inteira!
De dentro desta roda funciono apenas como uma engrenagem;
E tudo o que possa fazer parece pequeno, sublimado, etéreo.


Juntos
Este sou eu, ao lado de outros iguais:
Humanidade de laços humanos interrompidos.
Estes somos nós, juntos, buscando a ligadura dos pontos
Com centenas de braços, pernas, cabeças, corações!
Somos nós, com nossas histórias coletivas,
Sempre juntos em um novo mundo em construção!

Trabalhador


Único
Sonho o meu sonho; faço coisas pequenas neste mundo em construção: carrego tijolo, amasso a massa; levanto paredes com minhas mãos. As coisas que faço são pequenas, do tamanho deste meu mundo, que vai desde o teto até o chão;


Coletivo
Sonhamos – ah!, quantos sonhos queremos neste mundo realizar! São todos bem simples, que contém a palavra compartilhar. Fazemos coisas gigantescas neste mundo que por nós e nossas mãos é uma imensa construção; em todos os cantos, em terras a não ter mais vista, somos um só povo, filhos da mesma nação; e derrubando as diferenças dia a dia, aniquilamos os muros da exploração.


Soma
Sonho. Sonhamos – é um conjunto de mãos! E é com este sonho acordado, em um conjunto organizado, que semeamos a gigante pátria socialista!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Uma placa na árvore

Foi manhã quase fria. Aqueles gritos frenéticos dos carros mordendo asfalto na Avenida Hercílio Luz. E os zumbis humanos zumbindo atrás do relógio-ponto automatizado. E eu navegava na calçada errada uma vez para ver. Para guardar e ver. E ver e pensar por todos aqueles que dirigiam monstrengos de ferro que mordem asfalto e zumbis que mordem o tempo até esgaçá-lo. Foi manhã quase fria na Avenida Hercílio Luz. A árvore não se negou ao peso. Não reclamou. Não se esvaiu em seiva. Simplesmente suportou.