segunda-feira, 30 de julho de 2012

Chuvisco

Chuva fina. Muito mais fina do que a canela da menina com cabelos guarda-chuva. Escorreu os cabelos apertando-os entre os dedos debaixo das marquises com nomes de mulheres. Olhou para as folhas das árvores aprisionadas sobre a ponte de concreto no meio da Hercílio. Com as mesmas mãos pensou em apertar as copas das árvores e escorrer todos os pingos retidos. Não conseguiu. Atravessou a rua. Sentou-se à porta do cabeleireiro. O vento gemia e assobiava. Lembrou de um romance, de montes e ventos uivantes. Logo foi avisada pelo farmacêutico que às segundas o cabeleireiro Jairo não trabalha - desfia cabelos demais aos sábados e domingos pela manhã! Soltou um bafo e retomou o caminho procurando as marquises para proteger o cabelo guarda-chuva da chuva. Sumiu na esquina, rebolando sobre as canelas finas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ventos e pardais


Um vento de saci dobrou os galhos das árvores da Hercílio ontem. Retorceu os cabelos da mulher ruiva que arrastava o cachorro pela coleira. Ele queria fugir. Ela, enfrentar. O vento, empurrar, dobrar e retorcer tudo o que encontrava pela frente.

Os pardais desafiaram o vento e se aninharam na árvore mais frondosa quase na esquina. Chilrearam até anoitecer. O vento perdeu força e desistiu. Chorou chuviscos ao amanhecer, afrontado por tão míseros pássaros.