terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Acordes

perpendicular com a Lua minha sombra se esquivou de uma esquina e um buraco pisou no meu pé, e crescente, meu rosto iluminou o giroflex do poste. fui preso por desacato - andei em desalinho; somente poderia ter curvado meu corpo esquálido e enorme em linhas paralelas ao Sol. e também porque fiquei naquele silêncio boreal diante de tanto amor registrado nos campos de batalha. a prisão até que não é ruim. a comida é boa como a de um restaurante universitário; e as mulheres! Hummm! as mulheres! todos lamentam que o vinho rosé gelado e frisante dos finais de tarde seja servido em copos comuns. dali, daquele ponto mais alto na beira do mar, ouvindo as tristonhas batidas de ondas apaixonadas contra a areia que as impedem de chegar, registramos o sol chamuscando a linha do horizonte em nossos chips embutidos, enquanto do lado de fora das grades homens estão presos aos seus trabalhos, mulheres às suas vidas e crianças em suas escolas, que os ajudarão a ser adultos, pessoas normais que reclamam da especulação imobiliária em suas praias mas investem em construções nas praias dos outros. perpendicular com a Lua, minha sombra se esquivou de mim mesmo e me perguntou se sou um sujeito bom ou ruim e se meu amor ainda resiste. enquanto pensava sobre os assuntos, um buraco pisou no meu pé. então meu Sol se abriu e religou o giroflex do poste. fui preso. fiquei preso. quero sempre esta prisão!