terça-feira, 28 de junho de 2016

Ondas

arranquei as ondas selvagens e salgadas e impetuosas de minhas veias e suas raízes ainda tentaram respirar soltando-se em ramas de minhas imensas narinas. não era ar que procuravam, e sim mais águas revoltas e profundas, como as do Estreito Augusto César, para se espalhar como os humanos se espalham em abraços simplesmente por abraçar. as ondas se foram em ondas de dentro de mim, e do centro, olhando-as, quanto mais perto das bordas da terra, menos energia, menos sal, menos tudo. agora, desatado dos cordames, chamo sereias.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Tinta

meus dedos manchados de tinta tocam as bordas da lua e os meus lábios murmuram teias junto aos teus ouvidos. do outro lado da janela a bicicleta amarela passa pra lá e pra cá e depois muda de rumo e some dentro da floresta. assim desse jeito nunca mais a verei e na lembrança haverá apenas um filme de 4 ou 5  segundos, enquanto a bicicleta amarela passa atrás dos vidros sujos de pó. nem sei mesmo se com o decorrer da primeira ou da segunda semana o que a minha mente vê será essa verdade. ou se o que vejo é uma mistura de imagens de uma propaganda de pipoca e a minha vontade de pedalar por aí. meus dedos manchados de tinta vermelha tocam as bordas da lua e meu estômago ronca de fome e meus lábios gemem de dor e alegria desfazendo as teias dos teus cabelos