Lânguida, virtuosa,
caminha sobre o rio
de água sempre turva,
aprisionado sob a calçada;
os sapatos de saltos muito altos
mal tocam o chão;
seu quadril desenha uma grande curva
em cada balanço;
lânguida, virtuosa e manipuladora;
passa demoradamente
e provoca um reflexo,
longo, muito longo,
nos vidros dos prédios colados
em um imenso paredão
meus olhos fogem do rebolado
e buscam o topo da sombra dos prédios;
ela segue, atraindo outros olhares,
encantados com o som dos saltos sobre a calçada oca,
enquanto ensaia um sorriso diabólico.