Olivier Pétré-Grenouille tem uma forma original de traduzir a relação de exploração máxima no "A História da Escravidão" (Boitempo Editorial, 2009). Ele narra e analisa as passagens do Homem pelo viés de quem é (dono/coisa possuída; beneficiado/coisa usada).
Se é possível que se possa distinguir vários níveis de escravidão além daquele cuja imagem é nossa - negro acorrentado, chicote, tronco -, o autor desta pequena obra de 150 páginas nos faz olhar para muitos lados e pensar. Destaca que os negros foram os últimos escravizados pelos brancos. Primeiro, brancos escravizaram outros brancos, por vários motivos. Para estabelecer a condição de submissão, transformaram-nos em "estrangeiros".
É uma razão para existir o intenso transporte de negros da África para o Sul dos Estados Unidos, para o Haiti e para o Brasil. A acumulação de capital também esteve envolvida nesta mancha macabra da Humanidade. E também a permissividade religiosa.
Um ser longe de casa, da sua casa e daquelas referências que o fazem pertencente, perde a sua voz e se torna escravo? Esta e outras perguntas estão na pequena obra de Olivier. Para algumas, a resposta é imediata. A necessidade de produção em escala, por exemplo, no capitalismo emergente, possibilitou a exploração dos estrangeiros negros. Nos sucessivos estágios do capitalismo, a escravidão, muitas vezes disfarçada, permaneceu e pemanecerá, até que todos se descubram não-estrangeiros.