"Procuro a palavra
fóssil.
A palavra antes da
palavra." Do poema Procuro a Palavra Palavra de
Lindolf Bell
Lindolf Bell morreu há
14 anos, num 10 de dezembro, em Blumenau.
Quando Herbert Marcuse
escreveu Eros e a Civilização,
Lindolf Bell completava 17 anos de idade. É muito provável que na
Escola de Arte Dramática o poeta de Timbó tenha feito contato com o
pensamento marxiano existente em Sigmund Freud e Marcuse. Com
certeza, leu Theodor Adorno e Walter Benjamin, indispensáveis para o
olhar crítico da sociedade ocidental a partir do século XX.
A Casa do Poeta em Timbó |
A poesia de Bell não é
apenas poética no sentido de que provoca uma emoção. Friamente, é
uma permanente proposta de completa paralaxe, em que o observador e o
ponto observado se movem constantemente, e portanto nunca são as
mesmas coisas. A poesia de Bell não é fragmento ou retrato do seu
eu interior que busca vazão e expressão num mundo esfacelado.
A proposta do autor
Lindolf Bell é a do reencontro com um novo encantamento produzido
pela ideologia acima de partidos, porém libertadora. Ao procurar a
palavra antes da palavra, Bell entoa o canto de Marcuse, que afirma,
em sua extensa obra sempre revolucionária – ele é apontado como o
autor incendiário que levou os estudantes franceses para as
barricadas e para os confrontos com o Estado no final dos anos da
década de 1960 – que somente a poesia é revolucionária, porque é
na poesia que usamos palavras velhas e gastas com novos sentidos, os
sentidos de uma Humanidade liberta e sempre em ebulição.
Se não se propusesse à
revolução pela poesia (conteúdo e forma, expressa pela atitude
frente ao mundo da Catequese Poética – sair, dizer nas praças
agitadas e nas ruas, nas fábricas, ir ao povo em lugar das
silenciosas bibliotecas), Lindolf não teria preferências pelo
caminhar. Poetas consagrados podem muito bem escrever do alto das
montanhas ou do fundo dos vales, mas só quem tem compromisso com o
novo Homem vai para a rua. Ou Pablo Neruda, ao lado de Garcia Lorca,
não teria se perfilado com os combatentes da tirania na Espanha.
A palavra antes da
palavra é busca de todas as coisas que possam ser traduzidos para o
homem pela poesia. A primeira delas pode ser um sentimento. Desde que
ele se revele inquietação transformadora. Ou Lindolf Bell não
teria nascido em Timbó e morado em uma garagem em São Paulo.
(Esse artigo foi publicado no Café Impresso, de Timbó, na semana que antecede a morte de Bell com algumas pequenas modificações)