quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Bagagem

É um céu diferente, estrelas e fundo, mais azul, mais escuro, e as nuvens antes da tempestade dançam como em nenhum outro lugar; a chuvarada tem um barulho diferente, e os pássaros, fugindo da ventania.
Desci ao vale agora cercado de luzes de casas e prédios e de caminhões e carros, mas onde antes havia mata e dentro dela uma lenda: Tigre Velho.
Desci ao vale. Neste lugar, o calor é imenso se a brisa do Sul perde para outros ventos. Mas quando ele domina, ou chove ou a fresca tira de casa até mesmo os mais acomodados para uma volta na praça. É só para uma volta. As águas coloridas do chafariz não apareceram. A concha acústica nada ecoou. Mas a árvore centenária, escorada como uma anciã nos últimos 50 anos, de boa memória lembra da menina que subia em seus galhos para se sonhar trapezista. Os anos de 1940 deslizavam suavemente, como as patas dos cavalos pelas ruas empoeiradas e o compasso da boiada.
Desci ao vale para ouvir o lamento do Rio dos Queimados e o silêncio dos brinquedos do parquinho da praça. E de volta, trouxe uma romã na bagagem.