terça-feira, 26 de março de 2013

Aposentado

Humanos de corpos cansados da longa e extenuante jornada – somadas as horas dedicadas ao trabalho de apenas um daria mais de dez vezes o Brasil -; Humanos e seus corpos e mentes transformados pela ausência de mais ar de Humanidade, de tanto que respirou processos, escaninhos, mandados, sentenças e os problemas que não são seus, mas que se lhes penetram e ficam; Humanos que nesta fase da vida – e nesta fase da vida é quase ao fim dela – descortinam para além dos seus desejos porque se põem naqueles de hoje desejando que nunca precisem fazer o que fazem agora, quando os pés doem, as juntas se entortam, o corpo desobedece; Humanos que trabalharam mais do que viveram; Humanos que trabalharam tanto que quase desaprenderam a respirar. Humanos que nesta fase da vida – aquela em que parece que os olhos só olham para os distantes tempos passados – tem coragem de lutar – e mais do que isto, colocar-se no lugar daqueles que, embriagados pelo trabalho, quase nada conseguem perceber.