Com carinho, para Hilda Hilst
Aonde tuas mãos que arregaçavam minh'alma na prece antiga, e se explodia, e se implodia, ordinária virtuosidade, proibidas rugosidades na Casa do Sol; aonde minhas mãos que arrancavam teus úteros e os mostravam uivando à lua escondida atrás das nuvens; aonde a arte que nasce do vento e se molha com saliva por mamilos e pelos, e curvas, e se esvai sem que se possa contar segundos que eram milênios - eram apenas isso: milênios + segundos + minutos + horas sem nada; e esse arremesso inexistente de som, gemido, temido por tão perto do despenhadeiro que não há mais como recuar, sem pensamento, sem vida, inerte ali, sobre o ventre, derradeiro sentimento que fecha os olhos e, com a morte, desobriga meu eu de sentir e só rejeitar esse som-agulha da passarada chegando o dia; essas virtudes espalhadas sobre a pele, inexistentes, gozadas apenas, e esquecidas; as pernas amortecidas e o quadril danificado e o coração parado e o ventilador ligado aparando e empurrando a fria aragem do corpo que, envolto em neblina, dispersa-se para além da janela; aonde tuas mãos que arregaçavam minh'alma inexistente; e se existia, confusa; aonde meus prolongados e elásticos dedos que arrancavam teus úteros enquanto uivavas para os céus; foi-se, morta, pedido o perdão para o ingresso no Paraíso, lugar em que as virtuosidades se escondem na próxima esquina, no Inferno do teu Deus!, ah!, arregaça a tua alma e me permita a lama, e põe luz em tua idade enquanto eu sigo, perdido na casa do vento, procurando mãos que toquem minha antiga e proibida e ordinária existência desde a janela da Casa do Sol.