sexta-feira, 10 de abril de 2015

Tristeza

ruídos mastigados de dentes rangendo e rangendo as gengivas e as línguas e os sangues coagulados nos sisos e dos olhos talvez lágrimas escorrendo para dentro abaixo da pele e penetrando nos vasos e endurecendo artérias e soldando um ou dois ou três pensamentos e as mãos espalmadas nas aparentes costelas no volvebatur do corpo amolecendo e as memórias ocupadas em segurar bolhas de ar coloridas que dançam diante da retina e quando se afastam explodem em luzinhas e somem em pontos escuros e ninguém escuta o ruído de dentes roendo dentes e os olhos abertos parados na janela e além da janela nos prédios sombrios e os olhos parados olhando aquilo e vendo nada e de dentro brotando universos em estalos elétricos consumindo a lágrima que nunca saiu e a tristeza tão triste que rói os dentes e range nas gengivas e escorre sobre a pele e penetra nas veias e entope de lágrimas e as mãos espalmadas buscam ar e bolhas e cores que se viram em cinzas e de dentro nascem borboletas e luzinhas de plenas vidas curtas e mutantes e mãos espalmadas buscam e buscam e buscam e as luzes se afastam e se retraem e desaparecem e os olhos se perdem nas janelas e nas sombras além delas morrendo e morrendo e morrendo.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Torto

pequenas pedras no caminho entre um ponto e outro: fantasmas de um tempo da partida e um há-de-vir de uma chegada. pequenos cacos pontudas de vidro no caminho e entre os dedos dos pés lascas de pele em um corpo entorpecido, desemparelhado entre a noite e o dia, ou entre a luz e a sombra, ou entre o bem e o mal. ou entre o nada e o nada. pequenos sentimentos no caminho, esfarelados na fala que imita folhas de rosto de trabalhos escolares enquanto a matilha se aprisiona e para manter a prisão alucina-se imperdoavelmente e espera que as correntes tragam perdão. perdão. vai-se o chão em buracos cheios de alucinações todos os dias. um copo de água e uma pílula estragam a alma e repõem viseiras.