segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cordas

As folhas das árvores da Hercílio ainda entopem os bueiros menores. Vai-se quase uma semana de sol do veranico de Maio que chegou em Junho. Em breve uma onda de frio e vento gelado tirarão as mulheres e seus cãezinhos do caminho das bicicletas. Os ciclistas também não aparecerão depois das 18h, quando as rajadas de noite espantam todos para dentro das paredes. Ninguém sentará nos bancos da avenida para ver o movimento na hora da ave-maria. As janelas do paredão ficarão iluminadamente imponentes. E os gritos dos pneus dos carros dirigidos pelos desatentos serão guardado para a próxima estação. Comprarei uma corda maior no Daora. Amarrarei minhas pernas para me livrar do pesado Inverno. Como tantos outros, ele virá e partirá, deixando e levando alguns pedaços, amassando mais algum vinco da pele ou anestesiando mais alguma memória. E depois as folhas ressurgirão com encantamento, recobrindo a Hercílio, refazendo as sombras. Quantos metros de corda terei que comprar para que o Inverno não me arraste?