quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma volta no parque

Pedrão amava cadelas. Caçava-as pela cidade, à noite. Escondia-se nas moitas do parque e quando passavam, saltava sobre elas, derrubando-as com seu corpanzil. Amarrava um saco preto, de plástico, em volta do corpo e esperava, sentado e ofegante, olhando para as estrelas. Contava os segundos, pensando em elefantes. Dentro do saco, as cadelas se retorciam e cambaleavam. Caíam. Reduziam-se a nada, estiradas no chão empoeirado. Logo esfriavam. Pedrão as arrastava pelo parque, até o lago. Amarrava uma pedra ao corpo, com um nó bem apertado. Beijava a boca daquela estátua fria e dura e a lançava na água. Esperava algum tempo, até que as ondas sobre o lago se desfizessem e saía em disparada, correndo pelo parque. Perto do portão de casa, ouvindo os gritos da mãe, escorria mijo pelas pernas. Pedrão entrava, sapatos nas mãos, e sem que a mãe percebesse que havia saído, enfiava-se sob as cobertas, de onde nunca tem vontade de sair. A menos, é claro, para dar uma volta no parque.