sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Um gato no banquinho

Perto da porta, um banquinho, desses comuns, que se acha em qualquer lugar. As pernas abertas. Os encaixes, soltos. O peso de uma pessoa o faz balançar. Sobre o banquinho, um gato. Lucifer Sam. Parece desatento. Apenas ali. No seu mundo, inimaginável mundo interior felino. Uma sombra passa. O gato acompanha os passos desde a primeira vista, a porta. Não olha para a sombra. Procura os buracos dos olhos. Segue-os. Assim que a sombra para, de costas, ancorando na quina da pia, Lucifer Sam salta do banquinho e passeia entre as pernas da sombra, ronronando. Então se coloca sentado, de costas, diante da porta do balcão. Solta alguns miados, olhando para trás. Então a portinha se abre. O gato vai até dentro do compartimento, dá uma volta, e segue o pacote, estremecendo a ponta do rabo. Ronronando sem cessar, abocanha a primeira parte da comida. A sombra, perturbada, procura, no seu curto espaço humano, outros a quem alimentar...