Madrugadas e ventanias. Fadas e ruídos. Incômodos zumbidos. Palavras em livros. Vida nas palavras.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Verão
A certeza de que logo corpos de todos os tipos, especialmente aqueles preparados nas academias e já tostados nas câmaras de sol artificial e em jatos alaranjados, ficarão ao alcance dos olhos em Jurerê ou na Felipe Schmidt em brevíssimo tempo está na minha cozinha. O gato saltou de um lado a outro na madrugada. Mas faria isso por qualquer isca. Uma borboleta e ele passaria semanas alisando-a com as patas. Se o cheiro da brisa do Inverno na Hercílio Luz é outro; se o calor do sol na pele já não fica mais na pele, mas se afunda, ardendo; se ao olhar a Mauro Ramos vê-se mais do que o movimento, porque enche-se o pulmão de um ar cozido que se solta do asfalto, e se tudo isso pode também ser indício de um dia que em meio ao Inverno acontece somente para desmoralizá-lo, já não se pode dizer do verdadeiro Verão que se anuncia sobre as pedras do chão da cozinha. Inertes e quase transparentes centenas de asas desprendidas: os vorazes cupins finalmente chegaram. Receberam a o recado da Natureza da de que o frio, mortal, se foi.