sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Bilhete

O vento levantou um voo rasante desde a baía sul e rodopiou sobre a Hercílio Luz. Veio trazendo abanadores de carnaval, confetes e serpentinas. Veio junto um bilhete amoroso em letra desenhada de uma certa Carla Carolina. O bilhete caiu num repente, como se o vento cessasse em um buraco. O vento continuava e buraco não existia. Havia o desejo do bilhete de ser lido. Foi lá na baía sul que o vento levantou como um rabo de cavalo árabe e rodopiou sem salamaleques sobre os prédios da justiça e trouxe o bilhete amoroso. Nele não tinha destinatário, apenas uma exclamação inicial, oh! amor!, e uma lista de reclamações sobre a falta de tempo, do ônibus superlotado, do preço da passagem, da falta de trabalho ou do trabalho extenuante, e de que tudo isso chegara ao fim porque ela, Carla Carolina, enchera o saco. Partiu. deixou nada a não ser o bilhete, para um amor que não teve.