segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Sol Também Se Levanta de Madrugada

 (Do livro Poemas e Outras Artes dos Sentimentos, para os trabalhadores da Sadia-Concórdia)

Se erguem calados
antes que o Astro se levante
e mais cedo cruzam a cidade
como uma procissão silenciosa na madrugada
e antes que a luz pinte os vitrais milcoloridos das igrejas
se enfurnam na escuridão de fumaça e gelo
e das facas que vibram nas juntas moles dos porcos e das aves
no empacotamento de tripas metricamente servidas
e exclusivamente impermeabilizadas
e eternamente lustras
e sofisticadamente dedetizadas

se esticam numa volta ao mundo

e sem que eles vejam
o mundo se foi

se erguem calados mais uma vez
os braços extasiados
o corpo exaurido
as mentes atonitamente caquéticas

voltam de onde partiram
cortando a luz
que não tem fumaça e gelo
não tem mais graça tanta a dor
que o corpo esmaga

e sem que eles vejam
o mundo se foi

rumam rumo ao sono
porque dormem num respiro profundo
já que tanto ar faltou antes
e sonham com a madrugada que vem
e no sonho se erguem
cortando as ruas da cidade

e sem que vejam
o mundo se foi

todas as noites

sonham o mesmo sonho
e nele jamais vêem crianças no parque da praça